Fiat criou o Uno Cabrio para exposição e, depois do show, calibrou seu motor turbo, suspensão e freios para serem utilizados sem moderação!
Na criação de um show-car, muitos cálculos matemáticos são feitos para determinar até onde um designer pode “viajar” na hora de projetar um carro. Entram nas contas diversos e importantes aspectos, como o motor que irá sob o capô, o diâmetro do jogo de rodas instalado, o vão livre em relação ao solo, se haverá capota ou não, vidros… É equação para sujeitos com experiência e não basta ter visual no papel e não funcionar na prática. No caso do Uno Cabrio e para nossas calculadoras, tudo é bem mais simples: Novo Uno duas portas — teto — colunas C + motor turbo = diversão. Pronto: calculado!
Sob os olhos atentos dos criadores e calibradores do Uno Cabrio, apresentado e cobiçado por milhares durante o Salão do Automóvel 2010 (SP), engatei a primeira marcha e derreti os pneus 195/45 R16 dianteiros. Ao enfiar segunda e terceira, também sacrifiquei os borrachudos! A explicação é simples: debaixo do capô está o mesmo motor 1.4 turbo utilizado no Punto e no Bravo T-Jet. Ao meu lado, Ricardo Dilser, parceiro de corridas e jornalista, agora no departamento de Comunicação da Fiat: “Esse Uno é um conceito que acelera e não tem apenas visual para exposição. Pode enfiar o pé que você vai gostar, freie bem dentro nas curvas, aproveite o traçado e verá como ele contorna bem e tem força nas saídas de curvas”, explicava Dilser. E não é que funciona!?
Apesar de o Uno duas portas original ter apenas 909 kg, reforços na estrutura do carro após o corte do teto elevaram essa massa em quase 150 kg. No total, são 1.050 kg para o propulsor de 152 cv e 21,1 kgfm de torque puxar pelas rodas dianteiras. Mas, não pense que o pessoal da Fiat vai até a linha de montagem, pede um motor turbo para colocar em um Uno e pronto, resolvido. Além de toda burocracia de uma empresa grande, é preciso criar soluções para a adaptação no cofre, como pontos de fixação de motor e câmbio (o cinco marchas manual também é do Punto/Bravo), por exemplo. E tome contas… O radiador dos modelos maiores não coube na frente do Uno e a engenharia achou que a peça com melhor eficiência e capaz de entrar entre motor e painel frontal era a do Palio. O intercooler é o dos T-Jet e fica exposto na boca gigante do para-choque dianteiro, exclusivo deste conceito.
Após várias voltas, o sistema de arrefecimento se mostrou valente e apto para enfrentar um dia-a-dia. Outros componentes como semi-eixos e homocinéticas do Uno duas portas resistiram bravamente. Já os freios foram revistos para que suportassem a otimização de performance e um bando de sujeitos conhecidos como “cupins de ferro”: discos de Fiat 500 foram para a traseira e o ABS recebeu nova calibração, já que nenhum Uno oferece discos nas quatro rodas. Rodando no seco e no molhado, as frenagens foram perfeitas e sem fadiga.
Outro assunto sério para um carro-conceito feito para andar forte é a suspensão. Parado em um estande de evento, não se nota virtudes ou defeitos dinâmicos de um veículo. Mas, ao convidar “destruidores” para voltas rápidas, tudo deve estar perfeito. Depois de muitas horas na pista de testes da fábrica de Betim, a comprovação veio em um kartódromo: as molas e amortecedores originais do Uno ficam excelentes quando bem acertados para uma tocada esportiva: pegamos zebras, entramos em curvas freando e acelerando, provocamos e erramos propositalmente para entender e testar o carro e o resultado é animador. Tanto é que dizem existir um Uno dentro da Fiat sendo preparado para rodar com mais de 250 cv! Trata-se de um experimento, apenas, mas nós vamos ficar em cima para trazer mais novidades.
A Fiat garante que o Uno não terá uma versão T-Jet de fábrica, até porque o ritmo acelerado de produção faz com que apenas os Uno convencionais saiam da linha de montagem. O volume é tão grande que torna impraticável uma versão radical em baixa escala. O mesmo acontece com o acabamento interno, muito primoroso para ser oferecido em um carro de entrada da marca. Desenhado de acordo com tendências mundiais de couro costurado numa espécie de diamond cut (em formato de diamante), linhas saradas e a inusitada combinação de marrom com azul claro deixou o Cabrio sofisticado, como merecia um “sem-teto de salão”. Nem mesmo aos bancos teremos acesso: são do Fiat 500 Abarth, versão que também emprestou shift-light e volante. Quem quiser muito pode pensar em comprar nas concessionárias específicas Abarth, que só existem na Europa.